Na 27ª Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, a COP 27, no Egito, a sociedade civil brasileira mostrou-se mais uma vez bastante mobilizada para levar suas demandas e contribuições ao debate climático. O destaque deste ano foi para o espaço maior conquistado pelos povos originários, quilombolas, ribeirinhos, negros, periféricos e jovens, que participaram de mesas de debate e marcaram presença nos corredores da conferência.
Na quinta-feira, 17 de novembro, representantes de coletivos e organizações desses grupos se encontraram ainda com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que está na COP participando de reuniões e conversas com lideranças climáticas nacionais e internacionais.
“O que vimos nesta COP é a sociedade civil brasileira abrindo espaço para essas comunidades e seus representantes legítimos”, afirma Roberto Waack, cofundador da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, rede de 500 lideranças de diferentes setores que atuam pela região. “Em 2021, em Glasgow, vimos um pouco dessa abertura, com a participação recorde de lideranças indígenas brasileiras em uma COP. Mas, no Egito, esse aspecto foi ainda mais marcante.”
“Tenho certeza de que esta foi a COP dos movimentos sociais”, diz Erica Monteiro, representante da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos (Malungo), do Pará. “Viemos, deixamos nossos nomes e recados. Não podemos discutir mudanças climáticas e justiça climática sem os verdadeiros guardiões da floresta. Minha expectativa para as próximas COPs é vir mais preparada para interagir em outros espaços além dos brasileiros.”
Para ela, o fato de Lula ter recebido os povos da floresta e representantes de outros grupos, como negros e periféricos, na COP foi muito importante. “Acredito que teremos grandes avanços nessa pauta.”
Lula encontrou-se com representantes da sociedade civil pelo menos duas vezes nesta quinta-feira: a primeira, de manhã, no Brazil Climate Action Hub, e outra à tarde, no Fórum Internacional dos Povos Indígenas.
No encontro da manhã, um dos que se pronunciaram foi Douglas Belchior, representante da Uneafro e da Coalizão Negra por Direitos. “O movimento negro, unido ao movimento dos povos originários e tradicionais, aprofundou o debate sobre a questão climática. Para nós, não existe justiça climática sem enfrentamento ao racismo”, disse ele em sua fala.
No perfil oficial no Twitter, o presidente eleito agradeceu “a resiliência da sociedade civil nos últimos anos” e reforçou a importância da colaboração. “Obrigado por tudo que fizeram e vão fazer. Nossa tarefa não é só de um governo, é de uma sociedade”, tuitou.
Resiliência e colaboração
O Brazil Climate Action Hub, onde ocorreu o encontro da manhã, tem sido novamente um dos principais pontos de referência na COP, com a realização de dezenas de painéis e debates sobre o Brasil e seu papel no enfrentamento das mudanças climáticas. O hub foi criado em 2019, quando o governo federal não montou um espaço próprio do Brasil na COP daquele ano, em Madri.
Para Cíntya Feitosa, assessora de Relações Internacionais do Instituto Clima e Sociedade (iCS), uma das organizações responsáveis pelo Brazil Climate Action Hub, o espaço conseguiu manter uma imagem positiva do país nos últimos anos. “O fato de o próprio presidente eleito reconhecer a relevância da sociedade civil para manter ativa a agenda do clima é um sinal de sucesso e de resiliência propositiva da sociedade brasileira”, afirma.
“Fica muito claro que o futuro governo percebeu que não vai haver construção de política climática sem a participação expressiva da sociedade, e isso inclui movimentos que tradicionalmente não eram vistos como climáticos ou ambientais, como negros, juventudes e de periferias. É uma visão interessante de integração de agendas que veio para ficar”, acrescenta.