Cassação de Zambelli por xingamentos não encontra consenso no Conselho de Ética

Alvo de investigações da Polícia Federal (PF), do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a deputada Carla Zambelli (PL-SP) passou a enfrentar, nesta semana, acusações no Conselho de Ética na Câmara dos Deputados.

O processo ainda está em análise, mas, caso seja aprovado pelos parlamentares, poderá resultar em diferentes punições: desde uma advertência oficializada pela Câmara (como censura verbal e escrita), até a cassação do mandato da deputada.

O debate sobre a eventual perda de mandato de Zambelli se intensificou após a PF deflagrar, na quarta-feira (2/8), operação contra a deputada por invasão e inserção de documentos falsos em sistemas públicos de informática.

Parlamentares ouvidos pelo Metrópoles, no entanto, avaliam que, mesmo com a investigação da PF em curso, a cassação do mandato de Zambelli pelo Conselho de Ética ainda não é considerada consensual.

Na quarta-feira (2/8), o colegiado iniciou a análise da denúncia contra a deputada. A representação nº 1/2023 foi apresentada pelo PSB, partido presidido por Carlos Siqueira.

A denúncia diz respeito a um fato ocorrido em 11 de abril. Durante audiência pública da Comissão de Segurança Pública, com participação de Flávio Dino, ministro da Justiça, a deputada bolsonarista teria mandado o deputado Duarte Jr. (PSB) “tomar no cu”, segundo o documento. Ela nega.

Procurado pela reportagem, Duarte disse acreditar que uma eventual punição contra Zambelli poderá servir de exemplo para coibir a quebra de decoro parlamentar na Câmara. “Será uma decisão com caráter pedagógico para desestimular essas práticas”, disse.

Decisão do relator

Na sessão do Conselho de Ética nessa quarta, o relator do processo contra Zambelli, João Leão (PP-BA), acolheu a denúncia contra a parlamentar. Segundo a assesssoria de imprensa de Leão, o deputado se pronunciará sobre a investigação somente nos autos.

No entanto, fontes ouvidas pelo Metrópoles ressaltam que o relator deve levar em consideração apenas o episódio do xingamento contra Duarte Júnior. Segundo interlocutores, a investigação da PF não deve respingar no parecer elaborado por João Leão.

Entre os governistas, a expectativa também é de que o processo no Conselho de Ética termine em punição para a parlamentar, e que as investigações da PF esclareçam a suposta tentativa de incentivo a um golpe. “Carla Zambelli é uma das bolsonaristas mais nocivas à democracia. É fundamental que seus crimes sejam investigados e ela seja punida”, pontuou Guilherme Boulos (PSol-SP), que é membro do colegiado.

Pedido de vista

Apesar de ter sido acolhida pelo relator, a análise da representação contra Zambelli foi adiada após pedido de vista apresentado por Domingos Sávio (PL-MG), colega de partido da parlamentar. Os deputados terão dois dias úteis para voltar ao caso.

Ao Metrópoles Sávio afirmou que pretende “analisar melhor” a denúncia contra a colega. O deputado, no entanto, avaliou que “especulações sobre qual será a punição” contra a deputada “não são razoáveis”.

“As punições quando, se verifica procedência na acusação de falta de ética, devem ser proporcionais à falta cometida e é justamente por isso que o nosso regimento prevê desde a simples advertência até a perda do mandato. Portanto, não é razoável já estar especulando qual será a punição antes mesmo de se votar a admissibilidade da acusação”, disse.

Operação da PF

Carla Zambelli é alvo de pelo menos sete investigações que têm potencial de levá-la à perda de mandato. A mais recente teve início nessa quarta-feira (2/8), quando Zambelli foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).

De acordo com a Polícia Federal, foram inseridos no sistema do CNJ e de outros tribunais brasileiros 11 alvarás de soltura de presos e um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Segundo as investigações, a invasão ocorreu “com a utilização de credenciais falsas obtidas de forma ilícita”. Isso configuraria crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.

Nessa quarta-feira (2/8), Zambelli admitiu que manteve uma relação com o hacker Walter Delgatti, responsável pelas invasões. Ele foi preso preventivamente. Zambelli também declarou que foi a responsável por articular um encontro entre Delgatti e o então presidente Jair Bolsonaro (PL), em que o ex-mandatário questionou se as urnas eletrônicas seriam passíveis de invasão.

Como mostrou o colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, investigadores da Polícia Federal (PF) avaliam que havia elementos para pedir a prisão da deputada bolsonarista, não fosse a imunidade parlamentar.
Outras investigações

Em ação protocolada pelos deputados Glauber Braga (PSol) e Sâmia Bomfim (PSol), Zambelli também é acusada de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação por divulgar notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro e instigar generais das Forças Armadas a não reconhecerem e vitória do presidente Lula.

Além disso, há pedidos de cassação de mandato feitos após a deputada ter empunhado uma pistola enquanto perseguia um homem negro na véspera da eleição, em São Paulo.

Com informações do Metrópoles

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore