Vídeo de abordagem a carro de Amom Mandel confirma versão de policiais

O vídeo contendo o momento da abordagem da viatura da Polícia Militar (PM) ao carro do candidato a prefeito de Manaus, deputado federal Amom Mandel (Cidadania/AM), no dia 4 de janeiro deste ano, confirma a versão dos policiais militares, na qual dá conta de que o parlamentar foi parado porque trafegava com as luzes do veículo apagadas e em velocidade imprevisível, na Avenida Autaz Mirim, no bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste de Manaus.

As imagens foram disponibilizadas pelo Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) após a REVISTA CENARIUM acionar a Lei de Acesso à Informação junto à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). O episódio gerou polêmica nas redes sociais, na época, por conta das versões apresentadas: Amom acusou os policiais de “perseguição” e os PMs apontaram “abuso de autoridade” do deputado.

Pelas imagens obtidas pela CENARIUM, o veículo em que Amom estava, um BYD/Dolphin, de placa QZU-8H32, aparece com as luzes do carro (faróis e lanternas) ligadas em trechos da Zona Centro-Sul de Manaus, em horários anteriores, e apagadas em áreas da Zona Leste, no momento da abordagem pela viatura das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam).

Segundo as imagens do Ciops, as luzes traseiras do carro de Amom Mandel só foram acionadas após um movimento de frenagem feito pela motorista. A companheira do deputado Amom Mandel, na época, a analista de marketing Sarah Mariah de Oliveira, disse que conduzia o veículo durante a abordagem, em depoimento à polícia.

As condições do veículo onde estava Amom Mandel (luzes desativadas, em velocidade imprevisível) e as circunstâncias da Operação Impacto em curso foram apontadas pelos policiais, em depoimento, como fatores predominantes para eles pararem o carro do deputado, segundo os interrogatórios registrados no 14° Distrito Integrado de Polícia (DIP), na Zona Leste.

Percurso que fez o carro de Amom Mandel na noite de 4 de janeiro e madrugada de 5 de janeiro:

Às 19h05 do dia 4 de janeiro, o carro em que estava o deputado Amom Mandel aparece com as luzes (traseiras e dianteiras) ligadas na Avenida Darcy Vargas, na Zona Centro-Sul de Manaus.

Às 21h46 do dia 4 de janeiro, o veículo em que Amom Mandel trafegava aparece no vídeo do Ciops com as luzes traseiras apagadas ao chegar à Zona Leste de Manaus.

Às 22h02 do dia 4 de janeiro, o carro do deputado Amom Mandel indica as luzes traseiras apagadas na Avenida Autaz Mirim, no bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste, e recebe a sinalização da viatura da Rocam, quando, neste momento, a motorista aciona o sistema de frenagem e ativa as luzes do carro:

Ainda às 22h02 do dia 4 de janeiro, a viatura da Rocam para ao lado do carro de Amom Mandel para fazer a abordagem na Avenida Autaz Mirim, no bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste.

Às 2h35, após o registro do Boletim de Ocorrência no 14° Distrito Integrado de Polícia, o veículo em que estava Amom Mandel sai da delegacia com as luzes acesas (faróis e lanternas)

Denúncia desmentida

Após vazar a notícia de que Amom Mandel se desentendeu com os policiais durante a abordagem no dia 4 de janeiro, na Zona Leste, o deputado federal gravou um vídeo, dois dias depois, em que afirma estar sendo perseguido pelos PMs, porque, segundo ele, denunciou a “alta cúpula da SSP/A à Polícia Federal (PF) por um suposto envolvimento com o crime organizado”.

Neste mês, agosto, a CENARIUM teve acesso a um documento oficial da Superintendência Regional da PF, no Amazonas, no qual mostra que Amom não protocolou denúncia formal no órgão contra a Secretaria de Segurança Pública.

A informação está no Ofício 611/2024-PF/AM, no qual aponta que “não houve protocolo de nenhuma notícia de fato supostamente criminoso no Setor de Inteligência Policial desta Superintendência [do Amazonas] a partir de suposta denúncia feita pelo deputado federal Amom Mandel”.

Depoimentos à polícia

Em depoimento, um dos policiais que abordou Amom Mandel afirma que, na noite de 4 de janeiro, havia uma ação conjunta da PM com o Núcleo Especializado em Operações de Trânsito (Neot), do Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM), a “Operação Impacto”, e que o carro onde estava o deputado apresentava características diferenciadas dos outros veículos que trafegavam na Avenida Autaz Mirim.

“(…) No momento em que estava transitando pela Avenida Autaz Mirim, sentido Bola do Produtor, avistaram um veículo de placa QZU-8H32 transitando em área de intenso tráfico de entorpecentes, com as luzes de sinalização apagadas, trocando de direção e velocidade de forma imprevisível, sem qualquer sinalização”, disse ele.

Outro PM declarou que o carro onde Amom Mandel estava possuía película de insulfilm, o que impedia a visualização de quem estava dentro do veículo, e o carro não apresentava velocidade estável na Avenida Autaz Mirim, considerada uma das vias de maior tráfego em Manaus.   

“(…) O veículo possuía insulfim, impossibilitando saber quem estava dirigindo o veículo e a quantidade de ocupantes, fugindo da situação de normalidade, causando estranheza”, informou o policial.

Nos depoimentos dos policiais, há ainda declarações dos PMs sobre o questionamento do deputado federal a respeito da ação policial. Os dois policiais disseram que responderam ao deputado o motivo pelo qual o carro foi parado na avenida.

Questionado as razões da abordagem, então, explicou-se a operação em andamento, que visava combater crimes na Zona Leste de Manaus, com abordagem de veículo e pessoas naquela localidade; informou-se, ainda, que havia sido apreendidas armas a poucos metros daquele local da abordagem”, afirmaram.

Em suas redes sociais, o deputado Amom Mandel questionou o uso de armas pelos policiais militares da Rocam na abordagem ao carro dele durante a “Operação Impacto”, na Avenida Autaz Mirim, no dia 4 de janeiro, alegação reforçada pelo parlamentar em depoimento à polícia.  

Ao depor sobre a abordagem ao deputado, os policiais da Rocam argumentaram que o uso de armamento em operações é rotineiro. “A abordagem foi feita com armas em punho, que é procedimento padrão da Polícia Militar; que, após visualizar os ocupantes, sem perigo aparente, baixou o nível da abordagem guardando as armas”, pontuou um dos policiais.

Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança, divulgado ano passado, apontou um aumento de 30% em mortes de policiais brasileiros durante abordagens em operações. A pesquisa comparou dados de 2021 e 2022, e, no último ano, as estatísticas registraram que 173 membros de corporações perderam a vida em operações.

O Fórum Brasileiro de Segurança defende que os números da violência envolvendo policiais, seja como potenciais autores ou vítimas, é reflexo da necessidade de rediscutir o acesso às políticas públicas em todos os espaços de poder, tal como no Executivo, Legislativo e Judiciário.

Com informações da Cenarium

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